Barrar o PL da Caça Aos Livros não é só impedir a onda de conservadorismo.
É lutar contra uma prática política nociva!
(texto de Egerton Neto)
Em política, é mais fato que os vereadores tentam agradar suas bases para ter retorno eleitoral. A forma clássica disso acontecer é com as chamadas “políticas distributivistas”, que é quando um ator político busca aplicar recursos públicos nos territórios onde têm mais eleitores. É o velho conhecido “fazer obra pra aparecer” para tirar o retorno disso nas urnas.
Mas isso não acontece só quando estamos falando de bairros\regiões geográficas. Em outros casos a situação é diferente, mas o princípio é o mesmo. É o caso dos políticos conservadores ou aqueles que representam uma classe, como "o vereador dos taxistas" ou o "vereador dos policiais militares". No caso dos primeiros, o que traz mais retorno é combater uma dita onda “contra a família” e que preserve a organização tradicional da sociedade. O discurso, e não as obras, que são a principal arma. Isso poderia ser legítimo se não fosse uma construção de ilusão fantasiosa. Na ausência de uma situação política real da qual possam tirar proveito, são criadas tempestades em copos d’água a partir de uma situação de menor importância. É o caso do polêmico PL 26/2016, que queria proibir livros que mencionam diversidade e gênero nas escolas de Recife.
Vamos aos fatos: segundo a própria Secretaria de Educação, só existia um livro que faz menção a esses temas. E nele, uma única página. Ou seja, uma única página de um único livro é o que está sendo motivo de tanto alvoroço. Além disso, o que consta no livro é meramente informativo, não é uma cartilha nem doutrina ninguém. Mesmo assim os vereadores do Recife viram nisso uma oportunidade de explorar eleitoralmente a questão: venderam como um absurdo, uma afronta à família, um perigo urgente às nossas crianças. Na prática, nada disso se sustenta. Mas cumpre o objetivo de todo político: agradar suas bases.
Porém isso acontece às custas de muitas perdas. Os alunos que atualmente usam esse material poderiam ficar até 3 anos sem livros se o PL tivesse sido aprovado, pois o MEC já declarou que não os poderia repor. Além disso, apesar de ser apenas uma folha que estamos falando, se o projeto fosse aprovado, a porta estará fechada para uma educação que realmente queira falar sobre respeito dentro da sala de aula. Ou seja: para sustentar a votação de um grupo, os alunos e a educação do Recife poderão ser deixados para trás.
Acreditamos numa cidade onde haja inclusão e respeito a todos. E por acreditarmos nesse modelo de cidade, criamos a mobilização contra o PL da Caça Aos Livros. Contamos com mais de 2 mil assinaturas de recifenses exigindo que o PL 26/2016 fosse retirado da pauta da Câmara Municipal do Recife. E conseguimos! Provamos que só com a participação ativa das pessoas nas decisões da cidade, tantas vezes tomadas a portas fechadas, podemos barrar possíveis farsas conversadoras e oportunistas como esse projeto!